terça-feira, 12 de julho de 2016

Nion - Freixo por Osvaldo R Feres

Nion por Osvaldo R Feres



Nion ou Nin é a quinta letra do alfabeto Ogham e está associada ao Freixo.
A origem da palavra Nion pode ser interpretada como forquilha ou ramificação bifurcada, correspondente à palavra Gablach, ou seja, ramificação. Essa forquilha é o que sustenta o tear, ligando esse fid ao ato de tecer, como veremos adiante.
Segundo o Tratado de Ogham Nin significa “uma parte do tear do tecelão” ou “A teia do tecelão, isto é, o corpo da teia do tecelão”, portanto, esse fid está intimamente ligado ao ato de tecer, tradicionalmente uma função feminina. Nas palavras Ogham de Maic ind Óc diz “Orgulho das mulheres”, uma referência a habilidade feminina de tecer e nas palavras Ogham de Con Culainn “Orgulho da beleza”. Fiar e tecer requer trabalho em equipe, a reunião de várias mulheres para o bem da tribo e da comunidade, um trabalho que é ensinado de mãe para filha por gerações.
A lenda escocesa de Habitrot conta a história de uma garota que não gostava de fiar, preferia viver brincando, sua mãe, contudo, sempre a advertia de que nunca conseguiria casar-se com o bom partido se não soubesse fiar. Um dia sua mãe exige que fie sete novelos de linha, porém, como não sabia fiar a garota machucou seus dedos e foi até um riacho próximo para aliviar a dor, ao olhar para cima avista uma velha senhora fiando. O nome da velha era Habitrot, que leva a garota para uma caverna onde há outras fiandeiras, todas com os lábios tortos e os dedos chatos como os de Habitrot, pois molhavam os dedos nos lábios para fiar a linha. Habitrot e as fiandeiras encantadas ajudam a garota, fiando os sete novelos para ela. A garota muito feliz leva os novelos para sua mãe que grita de felicidade, chamando a atenção de um nobre que estava passando por perto. O nobre ao ver os novelos de linha branca e brilhante fica encantado e casa-se com a garota, acreditando que ela teria feito tal proeza. Após o casamento a garota temerosa que seu esposo descubra que ela não é hábil com a roca, o fuso e o tear, recorre novamente a Habitrot que a instrui, pedindo que leve seu esposo à caverna e assim foi feito. Ao chegar na caverna o esposo fica surpreso com a aparência de Habritot e das fiandeiras e pergunta por que elas tem lábios tão deformados e Habritot explica que é por causa de tanto fiar, desta forma, o nobre proíbe sua esposa de fiar, pois não quer que ela tenha o mesmo destino das fiandeiras e assim, ela vive feliz como antes.
Acredita-se que este conto de fadas escocês carrega elementos da religião celta pré-cristã, onde Habitrot é a remanescência de uma deusa da tecelagem que foi rebaixada, após o cristianismo, a uma fada benéfica.

A Tecelã do The Celtic Wisdom Oracle de Caitlin Matthews

O ato de tecer e fiar era considerado por muitas culturas o símbolo do destino, como nas lendas das Parcas gregas e das Nornes germânicas. Thomas Rolleston em seu livro Myths and Legends of the Celtic Race conta uma lenda do ciclo Feniano, onde o herói Finn e seus homens estavam avistando uma caçada no alto de monte e andando pelo monte eles se deparam com a boca de uma caverna, onde era possível avistar três bruxas horrendas fiando. Os guerreiros se aproximaram para vê-las de perto e acabaram presos nos fios das bruxas, como aranhas, elas os pegaram e colocaram dentro de sacos e os levaram para o fundo da caverna. Outro bando de guerreiros, procurando por Finn, também acabaram presos nos fios encantados das bruxas e foram amarrados e levados para o fundo da caverna. Quando as bruxas estavam prestes a matar todos os cativos, eis que chega Goll Mac Morna e salva os guerreiros, decapitando duas das três irmãs, a terceira pede clemencia e é negociado a libertação dos guerreiros, inclusive de Finn. Posteriormente Goll mata a terceira bruxa e Finn concede a mão de sua filha a Goll Mac Morna. Aqui vemos uma versão celta das temidas deusas do destino que a tudo destrói e consome.
Tecer também era um ato mágico atribuído as mulheres. A deusa celta continental Adsagsona está relacionada ao ato mágico de tecer e a profetisa e vidente irlandesa Fedelm do Ciclo do Ulster é descrita carregando uma lançadeira de tecer, relacionando a tecelagem com a vidência e a profecia.
Tradicionalmente as lanças eram feitas de Freixo, inclusive a famosa lança de Lugh. As lanças eram conhecidas como elementos que destruíam a paz em contrapartida ao fuso da tecelã que representaria o estabelecer da paz, como vemos nas palavras Ogham de Morainn mac Moín “Estabelecer a paz”.

Freixo


Significado oracular:
Nion, o quinto fid significa feminilidade, paz, tecer, uniões, destino, profecia, ligações, relacionamentos, família, harmonia, contratos, grupos, alianças, comunidade, trabalho em equipe e o coletivo. É considerado o fid feminino por excelência, pode representar uma mulher na vida do consulente, como sua mãe ou sua esposa, caso ele seja do sexo masculino, ou a própria consulente caso ela seja do sexo feminino. Diferentemente do fid Saille, Nion representa uma mulher no auge de sua vida, casada ou solteira, dona de casa ou adolescente, é uma mulher habilidosa e inteligente.
Em seu aspecto negativo Nion significa desentendimentos, fofocas, contendas e o fim da paz causado por intrigas e desentendimentos. O desafio é estabelecer novamente a paz através de ações comunitárias e alianças.

Em uma visão mais esotérica esse fid simboliza nossa alma ou os aspectos femininos que comandam nosso destino. É a fiandeira da caverna que determina o rumo de nossa existência, tecendo nosso futuro e criando a malha que representa nossas vidas, sempre interligadas como a trama de uma tapeçaria. 

Referências bibliográficas:

Livros:
BARROS, Maria Nazareth Alvim de. Uma luz sobre Avalon, celtas & druidas. Editora Mercuryo, 1994.
CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos. Editora José Olympio, 2012.
GRAVES, Robert. A Deusa Branca: Uma gramática histórica do Mito Poético. Editora Bertrand Brasil, 2003.
KELLY, Michael. The Book of Ogham. Ebook edition: CreateSpace Independent Publishing Platform, 2014.
KONDRATIEV, Alexei. Rituales Celtas. Editorial Kier, 2001.
LAURIE, Erynn Rowan. Ogam: Weaving Word Wisdom. Megalithica Books, 2007.
MARKALE, Jean. Merlim, o Mago. Editora Paz e Terra, 1989.
MATSON, Gienna; ROBERTS, Jeremy. Celtic Mythology A to Z. Chelsea House, 2010.
MATTHEWS, John. À mesa do Santo Graal. Edições Siciliano, 1989.
MATTHEWS, John. Xamanismo Celta. Hi-Brasil Editora, 2002.
MONAGHAN, Patricia. The Encyclopedia of Celtic Mythology and Folkore. Facts On File, 2004.
MUELLER, Mickie. Voice of the Trees. Llewellyn Publications, 2011.
MURRAY, Liz e Colin. The Celtic Tree Oracle, a system of divination. Connections Book Publishing, 2014.
RUTHERFORD, Ward. Os Druidas. Editora Mercuryo, 1994.
SQUIRE, Charles. Mitos e Lendas Celtas. Editora Record, 2003.

Sites:
http://www.maryjones.us/ctexts/ogham.html
http://www.maryjones.us/jce/jce_index.html

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