Saille por Osvaldo R Feres
Sail ou Saille é quarta letra
do alfabeto Ogham e está associada ao Salgueiro.
A
origem da palavra Sail vem da raiz proto-indo-européia Sal, que
significa Salgueiro, assim como em latim Salix, em irlandês moderno
Saileach, em espanhol Sauce e em gaélico escocês Seilich que
compartilham a mesma origem.
É
uma árvore ligada à
água, pois é frequentemente encontrada as margens de rios e lagos e
é plantada próximo de lugares onde a água está contaminada para
purificá-la, portanto, também está relacionada a coisas impuras e
a morte. Assim como a árvore de Salgueiro, o fid Sail também está
ligado à morte, como pode-se verificar nas palavras Ogham de Morainn
mac Moín “Palidez de um sem vida”.
As
palavras Ogham de Maic ind Óc referente ao Salgueiro “Sustento
das abelhas” e as palavras Ogham de Con Culainn são “Início do
mel”, desta forma, o Salgueiro simboliza a junção da água e do
mel, uma bebida extremamente apreciada pelos antigos celtas, o
hidromel.
Salgueiro
O hidromel foi servido ritualisticamente durante a coroação do rei
da Irlanda e em diversas lendas o vemos como a bebida mística que
era oferecida pela deusa da soberania ao rei. Assim como a água é
um dos principais símbolos da feminilidade e do subconsciente, o
hidromel é o símbolo da deusa da soberania, o poder feminino que
concedia ao rei o poder de governar sobre a terra.
Nas
lendas medievais irlandesas a deusa da soberania aparece ao herói
com a forma de uma velha horrenda, um símbolo da morte e da terra
desolada. A velha desafia o herói a beijá-la ou a casar-se com ela,
se assim o faz, ela assume sua real face de linda donzela e oferece
ao futuro rei uma bebida, frequentemente o hidromel, concedendo à ele
a realeza. Esse mesmo padrão se repete, com algumas variações, nas
lendas do Rei Artur, onde a Soberania assume a figura de Cundrie, a
mensageira do Graal.
No
conto Baile in Scáil (Furor do Fantasma) Conn pisa sobre uma pedra
ao andar no parapeito da fortificação de Tara, assim que pisa sobre
a pedra, ela grita. Intrigado, Conn pergunta a seu druida o que isso
significa e lhe é explicado que aquela pedra é conhecida como Fál,
ou seja, Destino e ela profetizou pelo número de gritos que deu,
quantos reis da raça de Conn o sucederá. Em seguida eles foram
envolvidos por uma névoa e ouviram um cavaleiro fantasma se
aproximar arremessando três lanças sobre Conn, após o
questionamento do druida o cavaleiro cessa os arremessos e dá
boas-vindas a Conn e o leva a sua morada. Eles chegam em uma planície
onde havia uma árvore dourada, uma casa e um poste central, dentro
da casa havia uma donzela coroada com uma coroa de ouro, também
havia um recipiente de prata com argolas de ouro cheia de cerveja
vermelha e um copo de ouro diante dela. O cavaleiro fantasma estava
sentado em um trono e lhes explicou que não era um fantasma ou
espectro, mas o próprio deus Lugh, e dirá a Conn a duração de seu
reinado, assim como, o de cada rei que o sucederá em Tara. A donzela
se apresenta como a Soberania da Irlanda, serve a Conn costelas de
boi e javali para comer e quando serve a bebida pergunta “A quem
deve ser dado este cálice?” e Lugh responde, recitando um poema
proferindo quantos anos Conn reinará e os nomes dos reis que irão
sucedê-lo. Em seguida, eles entram na sombra de Lugh e a casa
desaparece, mas o recipiente e o copo permanecem.
Essa
lenda está repleta de simbolismo, mas o que nos importa aqui é a
figura da Soberania da Irlanda que serve ao rei Conn a bebida que lhe
dará o direito de governar o país. A névoa é um sinal de que
Conn deixa o mundo dos homens para ingressar no outro mundo.
Em
uma passagem do conto “As aventuras dos filhos de Eochaid Mugmedon”
os filhos do rei Eochaid vão caçar e sentem sede, cada irmão vai
em busca de água e acabam descobrindo um poço guardado por uma
mulher horrenda, com o rosto todo preto, as unhas verdes e o nariz
torno, que exige um beijo em troca da água, mas todos se recusam a
beijá-la, somente Niall aceita, não só beijá-la como deitar-se
com ela e assim que ele se lança sobre a velha bruxa, ela assume a
forma de uma linda donzela e se revela como a Soberania da Irlanda,
concedo-lhe não somente a água, como a realeza por muitas gerações.
Vemos neste conto a Soberania como uma bruxa horrível, que mais uma
vez oferece uma bebida ao futuro rei, mas somente após um beijo.
O
nome da lendária rainha Medb ou Maeve significa “a que intoxica” da raiz
proto-indo-européia médʰu “hidromel”. Nos mitos vemos que a
própria rainha assume o papel de deusa da soberania e seu nome
sugere que foi oferecido hidromel no ritual de posse do rei.
Rainha Maeve por J. C. Leyendecker
Popularmente
o Salgueiro está ligado a Lua, portanto, assim como a Lua rege as
águas, também exerce influência sobre o Salgueiro, que possui
raízes que sempre buscam por lugares úmidos.
Na
Batalha das Árvores de Taliesin, o Salgueiro é assim descrito:
O
Salgueiro e as Sorveiras
chegaram
tarde em seus postos.
Significado
oracular:
Saille, o quarto fid significa intuição, soberania, enigmas, a sombra,
domínio feminino, autoconhecimento, emoções, ciclos lunares,
fluir, o limiar entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos (água e
névoa), instinto, percepção, silêncio e sensação. Como é um fid feminino pode significar uma mulher na vida do consulente, pode
ser sua mãe ou sua esposa, caso ele seja do sexo masculino, ou a
própria consulente caso ela seja do sexo feminino. Normalmente
representa uma mulher mais velha, sábia, com características de
rainha ou matriarca.
Em
seu aspecto negativo Sail significa o fim de um ciclo, a morte e o
processo de finalização que muitas vezes é doloroso. Também pode
significar intoxicações e contaminações.
Em
uma visão mais esotérica esse fid simboliza nossa sombra, aquilo
que está em nós mas não queremos ver, nem reconhecer. O desafio é
encarar nossa bruxa horrenda de frente, apaixonar-se por ela e fazer
com que mostre sua real face, a face da donzela da Soberania que há
dentro de nós.
Referências bibliográficas:
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LAURIE, Erynn Rowan. Ogam: Weaving Word Wisdom. Megalithica Books, 2007.
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MATSON, Gienna; ROBERTS, Jeremy. Celtic Mythology A to Z. Chelsea House, 2010.
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RUTHERFORD, Ward. Os Druidas. Editora Mercuryo, 1994.
SQUIRE, Charles. Mitos e Lendas Celtas. Editora Record, 2003.
Sites:
http://www.maryjones.us/ctexts/ogham.html
http://www.maryjones.us/jce/jce_index.html
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