domingo, 10 de julho de 2016

Saille - Salgueiro por Osvaldo R Feres

Saille por Osvaldo R Feres



Sail ou Saille é quarta letra do alfabeto Ogham e está associada ao Salgueiro.
A origem da palavra Sail vem da raiz proto-indo-européia Sal, que significa Salgueiro, assim como em latim Salix, em irlandês moderno Saileach, em espanhol Sauce e em gaélico escocês Seilich que compartilham a mesma origem.
É uma árvore ligada à água, pois é frequentemente encontrada as margens de rios e lagos e é plantada próximo de lugares onde a água está contaminada para purificá-la, portanto, também está relacionada a coisas impuras e a morte. Assim como a árvore de Salgueiro, o fid Sail também está ligado à morte, como pode-se verificar nas palavras Ogham de Morainn mac Moín “Palidez de um sem vida”.
As palavras Ogham de Maic ind Óc referente ao Salgueiro “Sustento das abelhas” e as palavras Ogham de Con Culainn são “Início do mel”, desta forma, o Salgueiro simboliza a junção da água e do mel, uma bebida extremamente apreciada pelos antigos celtas, o hidromel.

Salgueiro

O hidromel foi servido ritualisticamente durante a coroação do rei da Irlanda e em diversas lendas o vemos como a bebida mística que era oferecida pela deusa da soberania ao rei. Assim como a água é um dos principais símbolos da feminilidade e do subconsciente, o hidromel é o símbolo da deusa da soberania, o poder feminino que concedia ao rei o poder de governar sobre a terra.
Nas lendas medievais irlandesas a deusa da soberania aparece ao herói com a forma de uma velha horrenda, um símbolo da morte e da terra desolada. A velha desafia o herói a beijá-la ou a casar-se com ela, se assim o faz, ela assume sua real face de linda donzela e oferece ao futuro rei uma bebida, frequentemente o hidromel, concedendo à ele a realeza. Esse mesmo padrão se repete, com algumas variações, nas lendas do Rei Artur, onde a Soberania assume a figura de Cundrie, a mensageira do Graal.
No conto Baile in Scáil (Furor do Fantasma) Conn pisa sobre uma pedra ao andar no parapeito da fortificação de Tara, assim que pisa sobre a pedra, ela grita. Intrigado, Conn pergunta a seu druida o que isso significa e lhe é explicado que aquela pedra é conhecida como Fál, ou seja, Destino e ela profetizou pelo número de gritos que deu, quantos reis da raça de Conn o sucederá. Em seguida eles foram envolvidos por uma névoa e ouviram um cavaleiro fantasma se aproximar arremessando três lanças sobre Conn, após o questionamento do druida o cavaleiro cessa os arremessos e dá boas-vindas a Conn e o leva a sua morada. Eles chegam em uma planície onde havia uma árvore dourada, uma casa e um poste central, dentro da casa havia uma donzela coroada com uma coroa de ouro, também havia um recipiente de prata com argolas de ouro cheia de cerveja vermelha e um copo de ouro diante dela. O cavaleiro fantasma estava sentado em um trono e lhes explicou que não era um fantasma ou espectro, mas o próprio deus Lugh, e dirá a Conn a duração de seu reinado, assim como, o de cada rei que o sucederá em Tara. A donzela se apresenta como a Soberania da Irlanda, serve a Conn costelas de boi e javali para comer e quando serve a bebida pergunta “A quem deve ser dado este cálice?” e Lugh responde, recitando um poema proferindo quantos anos Conn reinará e os nomes dos reis que irão sucedê-lo. Em seguida, eles entram na sombra de Lugh e a casa desaparece, mas o recipiente e o copo permanecem.
Essa lenda está repleta de simbolismo, mas o que nos importa aqui é a figura da Soberania da Irlanda que serve ao rei Conn a bebida que lhe dará o direito de governar o país. A névoa é um sinal de que Conn deixa o mundo dos homens para ingressar no outro mundo.
Em uma passagem do conto “As aventuras dos filhos de Eochaid Mugmedon” os filhos do rei Eochaid vão caçar e sentem sede, cada irmão vai em busca de água e acabam descobrindo um poço guardado por uma mulher horrenda, com o rosto todo preto, as unhas verdes e o nariz torno, que exige um beijo em troca da água, mas todos se recusam a beijá-la, somente Niall aceita, não só beijá-la como deitar-se com ela e assim que ele se lança sobre a velha bruxa, ela assume a forma de uma linda donzela e se revela como a Soberania da Irlanda, concedo-lhe não somente a água, como a realeza por muitas gerações. Vemos neste conto a Soberania como uma bruxa horrível, que mais uma vez oferece uma bebida ao futuro rei, mas somente após um beijo.
O nome da lendária rainha Medb ou Maeve significa “a que intoxica” da raiz proto-indo-européia médʰu “hidromel”. Nos mitos vemos que a própria rainha assume o papel de deusa da soberania e seu nome sugere que foi oferecido hidromel no ritual de posse do rei.

Rainha Maeve por J. C. Leyendecker

Popularmente o Salgueiro está ligado a Lua, portanto, assim como a Lua rege as águas, também exerce influência sobre o Salgueiro, que possui raízes que sempre buscam por lugares úmidos.
Na Batalha das Árvores de Taliesin, o Salgueiro é assim descrito:
O Salgueiro e as Sorveiras
chegaram tarde em seus postos.

Significado oracular:
Saille, o quarto fid significa intuição, soberania, enigmas, a sombra, domínio feminino, autoconhecimento, emoções, ciclos lunares, fluir, o limiar entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos (água e névoa), instinto, percepção, silêncio e sensação. Como é um fid feminino pode significar uma mulher na vida do consulente, pode ser sua mãe ou sua esposa, caso ele seja do sexo masculino, ou a própria consulente caso ela seja do sexo feminino. Normalmente representa uma mulher mais velha, sábia, com características de rainha ou matriarca.
Em seu aspecto negativo Sail significa o fim de um ciclo, a morte e o processo de finalização que muitas vezes é doloroso. Também pode significar intoxicações e contaminações.

Em uma visão mais esotérica esse fid simboliza nossa sombra, aquilo que está em nós mas não queremos ver, nem reconhecer. O desafio é encarar nossa bruxa horrenda de frente, apaixonar-se por ela e fazer com que mostre sua real face, a face da donzela da Soberania que há dentro de nós.

Referências bibliográficas:

Livros:
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CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos. Editora José Olympio, 2012.
GRAVES, Robert. A Deusa Branca: Uma gramática histórica do Mito Poético. Editora Bertrand Brasil, 2003.
KELLY, Michael. The Book of Ogham. Ebook edition: CreateSpace Independent Publishing Platform, 2014.
KONDRATIEV, Alexei. Rituales Celtas. Editorial Kier, 2001.
LAURIE, Erynn Rowan. Ogam: Weaving Word Wisdom. Megalithica Books, 2007.
MARKALE, Jean. Merlim, o Mago. Editora Paz e Terra, 1989.
MATSON, Gienna; ROBERTS, Jeremy. Celtic Mythology A to Z. Chelsea House, 2010.
MATTHEWS, John. À mesa do Santo Graal. Edições Siciliano, 1989.
MATTHEWS, John. Xamanismo Celta. Hi-Brasil Editora, 2002.
MONAGHAN, Patricia. The Encyclopedia of Celtic Mythology and Folkore. Facts On File, 2004.
MUELLER, Mickie. Voice of the Trees. Llewellyn Publications, 2011.
MURRAY, Liz e Colin. The Celtic Tree Oracle, a system of divination. Connections Book Publishing, 2014.
RUTHERFORD, Ward. Os Druidas. Editora Mercuryo, 1994.
SQUIRE, Charles. Mitos e Lendas Celtas. Editora Record, 2003.

Sites:
http://www.maryjones.us/ctexts/ogham.html
http://www.maryjones.us/jce/jce_index.html

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