Nion por Osvaldo R Feres
Nion ou Nin é a quinta letra do
alfabeto Ogham e está associada ao Freixo.
A
origem da palavra Nion pode ser interpretada como forquilha ou
ramificação bifurcada, correspondente à palavra Gablach, ou seja,
ramificação. Essa forquilha é o que sustenta o tear, ligando esse fid ao ato de tecer, como veremos adiante.
Segundo
o Tratado de Ogham Nin significa “uma parte do tear do tecelão”
ou “A teia do tecelão, isto é, o corpo da teia do tecelão”,
portanto, esse fid está intimamente ligado ao ato de tecer,
tradicionalmente uma função feminina. Nas palavras Ogham de Maic
ind Óc diz “Orgulho das mulheres”, uma referência a habilidade
feminina de tecer e nas palavras Ogham de Con Culainn “Orgulho da
beleza”. Fiar e tecer requer trabalho em equipe, a reunião de
várias mulheres para o bem da tribo e da comunidade, um trabalho que
é ensinado de mãe para filha por gerações.
A
lenda escocesa de Habitrot conta a história de uma garota que não
gostava de fiar, preferia viver brincando, sua mãe, contudo, sempre
a advertia de que nunca conseguiria casar-se com o bom partido se não
soubesse fiar. Um dia sua mãe exige que fie sete novelos de linha,
porém, como não sabia fiar a garota machucou seus dedos e foi até
um riacho próximo para aliviar a dor, ao olhar para cima avista uma
velha senhora fiando. O nome da velha era Habitrot, que leva a garota
para uma caverna onde há outras fiandeiras, todas com os lábios
tortos e os dedos chatos como os de Habitrot, pois molhavam os dedos
nos lábios para fiar a linha. Habitrot e as fiandeiras encantadas
ajudam a garota, fiando os sete novelos para ela. A garota muito
feliz leva os novelos para sua mãe que grita de felicidade, chamando
a atenção de um nobre que estava passando por perto. O nobre ao ver
os novelos de linha branca e brilhante fica encantado e casa-se com a
garota, acreditando que ela teria feito tal proeza. Após o casamento
a garota temerosa que seu esposo descubra que ela não é hábil com
a roca, o fuso e o tear, recorre novamente a Habitrot que a instrui,
pedindo que leve seu esposo à caverna e assim foi feito. Ao chegar
na caverna o esposo fica surpreso com a aparência de Habritot e das
fiandeiras e pergunta por que elas tem lábios tão deformados e
Habritot explica que é por causa de tanto fiar, desta forma, o nobre
proíbe sua esposa de fiar, pois não quer que ela tenha o mesmo
destino das fiandeiras e assim, ela vive feliz como antes.
Acredita-se
que este conto de fadas escocês carrega elementos da religião celta
pré-cristã, onde Habitrot é a remanescência de uma deusa da
tecelagem que foi rebaixada, após o cristianismo, a uma fada
benéfica.
A Tecelã do The Celtic Wisdom Oracle de Caitlin Matthews
O
ato de tecer e fiar era considerado por muitas culturas o símbolo do
destino, como nas lendas das Parcas gregas e das Nornes germânicas.
Thomas Rolleston em seu livro Myths and Legends of the Celtic Race
conta uma lenda do ciclo Feniano, onde o herói Finn e seus homens
estavam avistando uma caçada no alto de monte e andando pelo monte
eles se deparam com a boca de uma caverna, onde era possível avistar
três bruxas horrendas fiando. Os guerreiros se aproximaram para
vê-las de perto e acabaram presos nos fios das bruxas, como aranhas,
elas os pegaram e colocaram dentro de sacos e os levaram para o fundo
da caverna. Outro bando de guerreiros, procurando por Finn, também
acabaram presos nos fios encantados das bruxas e foram amarrados e
levados para o fundo da caverna. Quando as bruxas estavam prestes a
matar todos os cativos, eis que chega Goll Mac Morna e salva os
guerreiros, decapitando duas das três irmãs, a terceira pede
clemencia e é negociado a libertação dos guerreiros, inclusive de
Finn. Posteriormente Goll mata a terceira bruxa e Finn concede a mão
de sua filha a Goll Mac Morna. Aqui vemos uma versão celta das
temidas deusas do destino que a tudo destrói e consome.
Tecer
também era um ato mágico atribuído as mulheres. A deusa celta
continental Adsagsona está relacionada ao ato mágico de tecer e a
profetisa e vidente irlandesa Fedelm do Ciclo do Ulster é descrita
carregando uma lançadeira de tecer, relacionando a tecelagem com a
vidência e a profecia.
Tradicionalmente
as lanças eram feitas de Freixo, inclusive a famosa lança de Lugh.
As lanças eram conhecidas como elementos que destruíam a paz em
contrapartida ao fuso da tecelã que representaria o estabelecer da
paz, como vemos nas palavras Ogham de Morainn mac Moín “Estabelecer
a paz”.
Freixo
Significado
oracular:
Nion, o quinto fid significa feminilidade, paz, tecer, uniões, destino,
profecia, ligações, relacionamentos, família, harmonia, contratos,
grupos, alianças, comunidade, trabalho em equipe e o coletivo. É
considerado o fid feminino por excelência, pode representar uma
mulher na vida do consulente, como sua mãe ou sua esposa, caso ele
seja do sexo masculino, ou a própria consulente caso ela seja do
sexo feminino. Diferentemente do fid Saille, Nion representa uma
mulher no auge de sua vida, casada ou solteira, dona de casa ou
adolescente, é uma mulher habilidosa e inteligente.
Em
seu aspecto negativo Nion significa desentendimentos, fofocas,
contendas e o fim da paz causado por intrigas e desentendimentos.
O desafio é estabelecer novamente a paz através de ações
comunitárias e alianças.
Em
uma visão mais esotérica esse fid simboliza nossa alma ou os
aspectos femininos que comandam nosso destino. É a fiandeira da
caverna que determina o rumo de nossa existência, tecendo nosso
futuro e criando a malha que representa nossas vidas, sempre
interligadas como a trama de uma tapeçaria.
Referências bibliográficas:
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RUTHERFORD, Ward. Os Druidas. Editora Mercuryo, 1994.
SQUIRE, Charles. Mitos e Lendas Celtas. Editora Record, 2003.
Sites:
http://www.maryjones.us/ctexts/ogham.html
http://www.maryjones.us/jce/jce_index.html
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